sábado, 1 de dezembro de 2007

continuando 5....

A mãe quer se sentir ouvida, falar do que incomoda na hora em que sente. Não depois, quando já se conformou. Ou antes quando não entende. Tal como jornal, mãe é prá ser lida no dia. A pior coisa para ela é estocar sentimentos e apreensões - como quem guarda inutilmente papel velho. Mãe deve dizer o que a confunde de pronto e ser respeitada em silêncio até o fim, para que a preocupação não seja convertida em recalque.Quando não está ao lado da criança, mãe padece com severa intensidade. Uma saída para se distrair - ou ao retornar ao trabalho - e já está ligando apavorada, solicitando relatos minuciosos dos últimos movimentos do rebento. Pavor de que não há quem cuide melhor do que ela. Ou pavor de que alguém cuide melhor do que ela.Então o que é ser mãe? É nunca precisar fazer essa pergunta. O que se experimenta em segredo, o esforço, o afeto pontual serão recompensados com a telepatia. A mãe notará que é possível esconder seus sentimentos de qualquer um, menos de sua criança, que alisará seus cabelos no desalento com o pente das unhas e nadará com alegria em seu corpo em cada abraço. E basta observar que a criança imita seu trejeito, basta reparar que a criança segura os objetos com sua firmeza, basta reconhecer na voz dela o galho florido de seu timbre, basta cheirar o cangote e descobrir quantas fragrâncias não foram criadas, basta vê-la caminhar longe do apoio, balançando como um pinguim, basta ouvi-la dizer "mamãe", "minha mãe", com a pausa de uma reza, basta ser surpreendida com as repetições de suas idéias, basta que ela invente novas possibilidades para a linguagem, basta que ela ponha a digital em um cartão, basta que ela sorria em uma foto, que ela retribua o "eu te amo", e as adversidades serão esquecidas.As adversidades já serão amor.

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